quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Minha História de vida e minha História vivida na EPM/UNIFESP (8)

5.5- A chegada a Buenos Aires e a busca por uma nova moradia

Ao chegarmos a Buenos Aires, em meados de janeiro de 1973, nos instalamos no Hotel Diplomat, localizado na “Calle San Martin”, uma rua paralela à “Calle Florida” (Figura 1). 



Figura 1 - Localização do Hotel Diplomat tomando-se como referência a Calle Florida.


O hotel havia sido indicado por um amigo brasileiro porque seu dono, Sr. Alejandro, era casado com uma brasileira cunhada deste meu amigo. Trata-se de um hotel bastante modesto, ainda está em atividade, porém decente e que atendia perfeitamente nossas necessidades momentâneas, já que pretendíamos rapidamente alugar um apartamento para nos instalarmos definitivamente. Não contávamos, entretanto, com as enormes dificuldades para conseguir alugar um imóvel naquela época em Buenos Aires. Uma cidade tão grande, uma verdadeira metrópole, porém com oferta mínima de moradias para alugar. Ficamos sabendo que há muito tempo não havia novas construções na cidade e que o sistema habitacional funcionava muito bem, portanto, não havia demanda para locação de imóveis, posto que o crescimento demográfico na Argentina fosse muito pequeno. O sonho de possuir a casa própria havia se tornado realidade desde o governo de Perón na década de 1950. Buscávamos insistentemente todos os dias nos classificados de “El Clarin” apartamentos para alugar e praticamente não encontrávamos nada que nos pudesse interessar. Além disso, estávamos sós, não conhecíamos ninguém, não havia a quem recorrer para nos auxiliar, oferecer alguma orientação como proceder, mas seguíamos buscando algo que atendesse nossos desejos. Finalmente, após dez dias de busca incessante encontramos um apartamento no bairro La Paternal, muito próximo ao bairro Once (região de comércio de atacado de confecções e varejo mais em conta), um local que em São Paulo equivaleria, à época, ao bairro do Bom Retiro (Figura 2).


Figura 2- Trajeto a ser percorrido desde a nossa casa até o centro comercial de Buenos-Aires representado pela Calle Florida.

Vencida esta etapa era preciso agora mobiliar minimamente o apartamento e isto foi feito com bastante agilidade, pois havia oferta de móveis e eletrodomésticos em grande quantidade e a preços razoáveis. Assim sendo, estávamos definitivamente instalados na nossa moradia portenha no seio da comunidade judaica, bem no centro geográfico de Buenos Aires, distante da “Calle Florida”, em direção ao leste cerca de 6 km e do hospital onde iria trabalhar outros 12 km, em direção a oeste (Figura 3).



Figura 3- Trajeto a ser percorrido desde a nossa casa até o Policlínico Alejandro Posadas, em Haedo, Província de Buenos-Aires.

Estava, a partir deste momento, pronto para iniciar meu trabalho no hospital Policlínico Alejandro Posadas (o nome do hospital é uma homenagem a um famoso médico argentino) (Figuras 4-5-6).




Figura 4- A família na sala de estar do nosso apartamento. O violão servia para matar as saudades de casa.




Figura 5- Desfrutando o fim do verão em Palermo com o filho de 1 ano de idade.




Figura 6- A visita da minha mãe depois de longa ausência.

5.6- O hospital Policlínico Alejandro Posadas e o começo das minhas atividades de especialização

O Policlínico Alejandro Posadas, ainda nos dias atuais, é um hospital público federal, localiza-se em Haedo, fora da capital federal, mas que faz parte da área da Grande Buenos Aires, a alguns poucos quilômetros depois de se cruzar a avenida General Paz em direção a oeste (esta avenida circunda a cidade de Buenos Aires e separa a capital federal da Província de Buenos Aires, cuja capital é La Plata). Está situado em uma ampla área de terreno cercado por um enorme gramado e um lindo bosque. Foi construído na década de 1950 para ser um sanatório para tratamento de tuberculose, mas nunca funcionou como tal, e somente foi aberto em 1970, para funcionar como um hospital geral, tendo aproximadamente 1000 leitos sendo 100 deles para Pediatria (Figuras 7-8-9-10-11).



Figura 7- Vista da entrada principal do Policlínico Alejandro Posadas.



Figura 8- Vista lateral do hospital mostrando o bloco da Pediatria.




Figura 9- Vista desde o andar da gastropediatria para a entrada principal do hospital e visão parcial da cidade de Haedo ao fundo.




Figura 10- Vista do jardim de entrada do hospital e visão parcial do centro da cidade de Haedo ao fundo.




Figura 11- Vista da varanda de um dos apartamentos de internação do hospital, o jardim e o bosque na parte posterior. Da esquerda para a direita Jorge Donatone, especializando de La Plata, Mirta Ciocca, residente de terceiro ano, e "Negro" Rodriguez, especializando de La Plata. Donatone especializou-se em Endoscopia, trabalha no hospital Soror Ludovica em La Plata, escreveu um lindo livro sobre endoscopia e atualmente está lançando o segundo livro sobre o tema e me convidou para escrever o Prefácio do mesmo. Mirta especializou-se em Hepatologia, atualmente é Chefe do Serviço de Transplante Hepático do Hospital Garrahan, Buenos Aires, somos grandes amigos desde aqueles dias. "Negro" tornou-se ativista político contra a ditadura que se instalou em 1976 e é um dos desaparecidos.


O serviço de Pediatria, cujo chefe era Dr. Toccalino, já era todo dividido por especialidades pediátricas e os leitos de internação estavam localizados em amplos apartamentos, com banheiro acoplado, na maioria das vezes ocupados por apenas duas camas, nunca mais do que quatro. Os pais tinham permissão para permanecer todo o tempo que desejassem junto com seus filhos, fato totalmente inédito para mim naquela época, porque aqui no Hospital São Paulo, e possivelmente na quase totalidade dos hospitais públicos brasileiros, as crianças permaneciam internadas desacompanhadas; somente era permitida a visita dos pais duas vezes por semana durante o período de meia hora. Apenas no início da década de 1990 é que foi promulgada uma lei criando obrigatoriamente a figura dos pais participantes em todos os hospitais brasileiros. Portanto, foi para mim o primeiro choque, muito positivo por sinal, ter que travar contato direto com os pais das crianças internadas nos leitos que eu cuidava e dar a eles todas as satisfações e explicações do que estava ocorrendo com seus filhos. Diga-se de passagem, isto foi um impacto tão importante para mim que, quando voltei ao Brasil, passei a defender fervorosamente esta ideia, tendo encontrado inúmeras resistências contrárias a essa proposta, e somente consegui implementar este modelo quando me tornei chefe do Serviço de Pediatria do Hospital Umberto Primo, em São Paulo, a partir de 1986.

O programa de Residência Médica em Pediatria estava bem consolidado e nos primeiros dois anos era semelhante ao nosso, ou seja, Pediatria Geral com rodízios nas enfermarias, ambulatórios e pronto-socorro. No terceiro ano, porém, o Residente escolhia uma especialidade pediátrica, dentre as muitas oferecidas, para se especializar. Eu entrei como médico residente de terceiro ano tendo que cuidar dos meus leitos, realizar os procedimentos de investigação diagnóstica da especialidade e atender o ambulatório de pacientes externos e ex-internados, sob a supervisão de um médico sênior. O ambulatório de pacientes externos eu fazia diretamente com Dr. Toccalino, como seu assistente. Como parte do programa de treinamento tinha também que participar das inúmeras reuniões científicas de apresentação de trabalhos, discussão de casos clínicos, revisão das lâminas das biópsias no serviço de Patologia, e da realização dos exames radiológicos, tudo isto no que se referia à especialização na Gastropediatria (Figuras 12-13). Além disso, uma vez por semana tinha que estar presente na reunião clínico-científica do Serviço de Pediatria, quando todos os médicos contratados, residentes e especializandos participavam com apresentações de casos clínicos das diversas especialidades, e, periodicamente, também havia alguma palestra com um médico convidado externo. Tratava-se, pois, de um programa bastante intenso de atividades assistenciais e científicas em tempo integral, afora as horas extras que eu tinha que conseguir encaixar no meu dia a dia para me dedicar aos estudos mais atualizados da literatura médica.





Figura 12- Reunião de revista com Dr. Toccalino (ao fundo à esquerda); à direita ao fundo Jorge Donatone e mais próximo Eduardo Cueto Rua (outro especializando de La Plata).



Figura 13- Os temíveis "pases de sala" (visitas aos leitos) sob o comando do Dr. Toccalino, quando ele cobrava de todos eficiência no atendimento aos pacientes internados. No primeiro plano à direita está Luis Guimarey especializando de La Plata, tornou-se Nutrólogo, foi preso político durante a ditadura, exilou-se no Brasil por meu intermédio juntamente com sua família, foi professor da UNICAMP e retornou à La Plata assim que terminou a ditadura e atualmente é Chefe do Serviço de Nutrologia do hospital Soror Ludovica. Ainda em primeiro plano à esquerda está "Chango" Córdoba, residente do Posadas, natural de Tucuman, nos tornamos grandes amigos jogando futebol nos fins de semana. Quando terminou a residência foi para La Pampa, interior da Argentina, exercer pediatria como intensivista do hospital local. Depois de 25 anos sem vê-lo, em 1998, recebi um chamado telefônico de sua mulher contando que ele havia sofrido um infarto e estava em Buenos Aires para ser operado e que ele havia dito a ela que queria me ver de qualquer maneira. Por coincidência na semana seguinte eu iria a Tucuman, pois havia sido convidado para dar palestras em um evento científico, então, fiz uma escala em Buenos Aires para vê-lo; ele já havia sido operado, foram colocadas umas quantas pontes de safena, estava convalescendo da cirurgia, recuperando-se muito bem, foi uma emoção enorme nosso reencontro. Voltei a vê-lo pela última vez em Córdoba durante o Congresso Latinoamericano de Gastroenterologia Pediátrica em 2001, ele viajou desde sua cidade, mais de 400 km de distância, especialmente para vir me ver, nos divertimos muito naqueles dias, ele estava especialmente alegre e parecia muito feliz. Na semana seguinte, já de volta a São Paulo, recebi um telefonema da sua mulher contando-me que ele havia falecido, sofreu uma parada cardíaca fulminante enquanto estava atendendo um paciente no hospital local.

Era, enfim, uma experiência maravilhosa e eu me sentia fascinado por tudo aquilo que estava vendo e vivenciando, não somente pelo conhecimento médico adquirido, mas principalmente pelo enriquecimento global como ser humano, sob todos os aspectos que se queira considerar. Além de tudo isso, a oportunidade de poder exercer ativamente a minha profissão, naquele momento específico da carreira, em circunstâncias absolutamente ímpares até então, representava algo de extraordinária importância pelo próprio desafio que encerrava. Participar como protagonista e não como mero espectador dessa nova situação significava vencer uma série de barreiras, e, dentre elas, a primeira e a mais crucial, a adaptação. Tratava-se de um hospital estranho, em uma nação que não era a minha, aonde se falava um idioma diferente do nosso, (ainda que quase todo brasileiro acredite que saiba falar espanhol, eu incluído, o que isto vale, em parte, para os lugares turísticos porque os nativos estão treinados no nosso idioma e tem necessidade profissional de entender e serem entendidos), e que precisava ser totalmente dominado porque era requisito fundamental para tornar possível o relacionamento com colegas e pacientes. Enfim, tudo era novidade na minha existência, a primeira experiência de vida no exterior como cidadão radicado em um país estrangeiro (como turista já havia viajado anteriormente pela América do Sul, Estados Unidos e Europa), e como médico, o que em determinados momentos me deixava profundamente inseguro, para não dizer desesperado, tudo podia ser um grande fracasso pessoal e profissional, mas ao mesmo tempo este desafio extremo era altamente excitante. Com efeito, na prática todas estas dificuldades foram sentidas logo no início das minhas atividades como está registrado no meu diário, três semanas após haver começado a especialização: “devo dizer que fui muito bem recebido, sou muito bem tratado, sinto-me quase que à vontade, mas é claro que o problema da língua atrapalha um bocado, não tanto para compreender, muito embora de algumas pessoas, especialmente de outro especializando que vem de La Plata, consigo entender muito pouco do que falam. Mas, sem dúvida a dificuldade maior é para me fazer comunicar, posto que eles não conseguem entender qualquer palavra que não seja em espanhol, e isto me deixa muito angustiado, sinto-me como um verdadeiro débil mental, enquanto eu falo as pessoas me olham como se eu fosse de outro planeta. Espero que logo mais isto deixe de ser um problema... pelo menos assim espero”. E, de fato, com muito esforço diário para suplantar estas dificuldades, algum tempo depois deixou de ser um problema, o que indiscutivelmente contribuiu de forma decisiva para um ótimo relacionamento pessoal com colegas e pacientes, bem como para aquilo que eu havia me proposto realizar.

Em pouco tempo mais já estava familiarizado com todos aqueles procedimentos da especialidade, teoricamente a razão primordial da minha viagem, mas que na prática resultou em parcela significativa, mas longe de ser a única, pois a experiência de vida que se incorpora nestas circunstâncias tão especiais é incalculavelmente maior. Para demonstrar meu domínio com os procedimentos da especialidade assim ficou registrado em meu diário, em 14 de maio, após três meses e quinze dias de trabalho: “agora já estou totalmente adaptado, tanto na parte médica quanto na comunicação, felizmente superei este obstáculo que muito me preocupava; tenho a responsabilidade direta sobre quatro leitos, os quais me ocupam uma parcela significativa do tempo pela gravidade dos casos e em relação às minhas atividades com os usos das sondas de intubação intestinal e as biópsias de intestino delgado sinto-me completamente à vontade e não tenho tido quaisquer problemas mais. Tenho realizado também algumas retosigmoidoscopias (vale salientar que naquela época não existiam ainda os endoscópios flexíveis específicos para uso em crianças) e participado ativamente, também, em muitos exames radiológicos, bem como, tomado muita radiação. Na parte clínica tenho visto muitas novidades, tanto doenças até então totalmente desconhecidas, quanto outras já conhecidas, mas cuja conduta aqui é bastante diferente daquilo que estava acostumado a ver aí em São Paulo, e a mortalidade destes pacientes é praticamente nula. Fazer o ambulatório com Dr. Toccalino tem sido uma fantástica experiência, ele atende os pacientes, eu me sento ao seu lado e fico observando tudo àquilo que ele faz; no fim da jornada repassamos todos os pacientes atendidos e discutimos cada caso individualmente, o diagnóstico e a conduta a ser tomada. Estamos construindo um relacionamento extremamente amistoso, ele tem sido muito paciente com minhas dificuldades com o idioma e a rotina do serviço, o que me deixa cada dia mais à vontade e mais seguro de que estou no caminho certo com a escolha que fiz. Vi também o primeiro caso de Doença Celíaca, esta enfermidade tão misteriosa para mim até então (Figuras 14-15).



Figura 14- A primeira paciente com Doença Celíaca que eu vi, cuidada pela Dra. Mirta Ciocca.



Figura 15- A mesma paciente vista de perfil para melhor evidenciar o importante agravo nutricional, desnutrição intensa devido à síndrome de má absorção provocada pela Doença Celíaca.


Tenho a mais absoluta certeza de que muitos desnutridos que vemos em São Paulo, e que são considerados casos de desnutrição por problemas socioeconômicos, na verdade são portadores de Doença Celíaca. Quando voltar a São Paulo irei investigar estes pacientes obsessivamente, e estou seguro que irei encontrar esta enfermidade no Brasil (o que na verdade ocorreu assim que retornei a São Paulo, e a partir deste primeiro caso, inúmeros outros passaram a ser diagnosticados). O que está me angustiando agora é a quantidade de coisas que a especialidade apresenta e o desejo de estudar tudo ao mesmo tempo, o que é claro, não é possível. Não sei o que fazer! Ultimamente (3 semanas para cá) não tenho estudado muito, ou pelo menos com a mesma continuidade que o vinha fazendo anteriormente, devido as minhas obrigações de cuidar dos meus leitos (pacientes internados) e dos meus dois trabalhos de investigação clínica.”

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Minha História de vida e minha História vivida na EPM/UNIFESP (7)

5.3- As barreiras a serem vencidas e a exitosa viagem a Córdoba

Diante da potencial situação de imobilismo que se nos apresentava, para tentarmos dar uma solução prática para tal impasse, eu me dispus a tentar um contato com Dr. Toccalino com o intuito de solicitar a realização do treinamento na especialidade em seu pioneiro e prestigioso Serviço, em Buenos Aires, posto que no terceiro ano da Residência tínhamos a permissão para realizar um estágio eletivo. Havia, no entanto, dois problemas a serem enfrentados e vencidos, a saber: o primeiro deles dizia respeito a realizar um estágio no exterior, coisa que era absolutamente inédita, até então, nos programas da Residência Médica da EPM, e por esta razão, não sabíamos como reagiriam nossos dirigentes a esta proposta. O segundo problema era saber se Dr. Toccalino me aceitaria como especializando em seu serviço, posto que não o conhecia pessoalmente e tampouco tinha qualquer informação da possível existência deste tipo de programa em seu Serviço. Felizmente, no entanto, as soluções foram pouco a pouco aparecendo e as barreiras foram sendo derrubadas. Em relação ao primeiro problema, decidi conversar com o Prof. Azarias Andrade de Carvalho, chefe do Departamento de Pediatria da EPM, e, portanto, a pessoa responsável pelas decisões a serem tomadas. Nesta conversa Prof. Azarias não somente vislumbrou com grande entusiasmo esta possibilidade, como mais ainda assumia total responsabilidade, perante os outros dirigentes do Programa de Residência Médica da EPM, pela autorização da possível e inédita viagem. Em relação ao segundo problema recebemos uma notícia alvissareira da parte do Prof. Fernando Nóbrega, naquela época chefe do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, que nos informou que uma residente de terceiro ano da sua Faculdade estava estagiando no serviço do Dr. Toccalino, portanto, a porta começava a se abrir.

Estávamos em meados do ano de 1972 e em outubro realizar-se-ia o Congresso Pan-americano de Pediatria, por coincidência, em Córdoba, Argentina, e, imaginávamos que muito provavelmente Dr. Toccalino deveria estar presente no aludido evento; seria, portanto, a oportunidade ideal para contatá-lo para solicitar a permissão para trabalhar em seu Serviço em 1973. Como Prof. Jamal tivesse aprovado um trabalho de pesquisa para ser apresentado no Congresso e dispunha de duas passagens aéreas, com a autorização do Prof. Azarias, viajamos os dois para Córdoba esperançosos em alcançar nossos objetivos, ou seja, encontrar Dr. Toccalino e dele receber a aprovação sobre a minha especialização em seu Serviço, em Buenos Aires.

Como era esperado Dr. Toccalino estava em Córdoba, em determinado momento nos recebeu com toda gentileza e para nossa agradabilíssima surpresa disse que me receberia em seu Serviço com a maior satisfação a partir de janeiro de 1973. A alegria foi tamanha que antes de voltarmos ao Brasil, como era um fim de semana, decidimos comemorar o êxito da nossa missão visitando Buenos Aires, cidade que viria a ser a minha morada no ano vindouro (Figuras  2 – 3 - 4 - 5).
  
 

Figura 2- Imagem ao fundo da tradicional Casa Rosada, sede do Governo da Argentina.


Figura 3- Prof. Jamal e eu à beira o rio da Prata, famoso local turístico portenho.


Figura 4- Vista do famoso Parque Palermo.


Figura 5- Visita a Ciudad de Niños no caminho a La Plata

5.4- A viagem com destino a Buenos Aires

Finalmente, ambos os problemas foram devidamente superados, e, a tênue e nebulosa idéia inicial havia definitivamente se materializado, surgia límpida e cristalina, totalmente delineável e palpável. Agora eu e minha família (mulher e filho) estávamos prontos e ansiosos para partir rumo ao desconhecido, para os braços da nossa primeira aventura no exterior.

Isto posto, partimos a caminho do nosso destino, vencendo os 2.000 km que separam São Paulo de Buenos Aires, em nossa valorosa Variant, mas antes, porém, passamos por Punta Del Este e Colônia de Sacramento (Figuras 6 - 7 - 8 - 9 - 10) aonde tomamos o ferry-boat Nicolas Mianovich (atualmente este barco está ancorado no bairro da Boca e tornou-se um museu náutico) para cruzar o rio da Prata e chegamos, por fim, à capital portenha.


Figura 6- Uma das conhecidas praias de Punta del Este, a Playa Brava. Ao fundo vê-se o centro da cidade.


Figura 7- Vista da Praia Brava.



Figura 8-Vista de uma das inúmeras mansões de veraneio dos milionários argentinos e uruguaios na região do Country Grill, em Punta del Este.


Figura 9- Visão do centro histórico de Colônia do Sacramento.


 Figura 10- Nossa valorosa Variant antes de cruzar o rio da Prata, ainda em Colônia do Sacramento.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Minha História de vida e minha História vivida na EPM/UNIFESP (6)

5- A Residência Médica e a inédita experiência de vida pessoal e profissional de um jovem médico no exterior: a especialização em Gastroenterologia e Nutrição em Pediatria, em Buenos Aires

5.1- As motivações, os preâmbulos e as tratativas para a viagem de especialização

Corria o ano de 1970, eu estava cursando o último ano de Medicina (naquela época já era denominado internato), na Escola Paulista de Medicina (EPM). Havia muito tempo que eu me decidira pela Pediatria e tinha uma meta obsessiva que era fazer a Residência Médica no Hospital São Paulo, posto que tinha absoluta consciência de que não me sentiria seguro em exercer a profissão sem ter passado por esta extraordinária vivência de treinamento em serviço. A instituição Residência Médica vivia um momento de grande prestígio, representava o passaporte de garantia da qualidade do profissional e a perspectiva de poder seguir uma carreira acadêmica. Entretanto, eram poucos os programas oficialmente credenciados em todo o Estado de São Paulo, o que tornava o exame de ingresso extremamente concorrido. Além disso, as vagas disponíveis para a Pediatria eram apenas cinco, portanto, era de fundamental importância aproveitar ao máximo o aprendizado oferecido naquele ano de internato para obter tão almejado êxito. Naquele tempo, tudo o que meu pensamento alcançava, até então, em termos futuros, era tornar-me um médico competente e, concomitantemente, se possível seguir a carreira acadêmica e vir a ser um professor universitário. Para minha felicidade terminado o curso médico prestei o exame de ingresso na Residência Médica no programa de Pediatria, fui aprovado, e assim, consequentemente, um novo horizonte surgia na minha vida profissional. Configurava-se para os três anos seguintes, a perspectiva de concretizar o ambicionado desejo e, também, passaria a me preparar para os futuros desafios que viriam a ser enfrentados.

Mas, antes de seguir o relato das atividades com o decorrer da Residência Médica, torna-se importante voltar um pouco no tempo para que se possa melhor entender os acontecimentos que o futuro me reservaria. Durante o internato, quando eu estava fazendo o estágio na Pediatria, por coincidência, concomitantemente como parte dos eventos comemorativos dos 50 anos de fundação da Associação Paulista de Medicina, foi organizado um curso de atualização em várias especialidades médicas, inclusive em Pediatria. Convidado pelo preceptor do internato e residência naquela época, professor Jamal Wehba, fui assistir às aulas que eram ministradas por três professores convidados do exterior. Dois deles eram professores seniores, Svoboda, alemão, especialista em ortopedia e o outro Fred Bamater, suíço, generalista que ministravam aulas magistrais. Mas quem mais me chamou a atenção foi um jovem professor argentino, Horácio Nestor Toccalino, gastroenterologista, que ministrava aulas sobre temas extremamente práticos condizentes com a nossa dura e crua realidade daqueles tempos. Abordava, sobretudo, aspectos objetivos a respeito de diarreia aguda e diarreia crônica, demonstrando uma grande experiência pessoal no manejo destes tópicos tão frequentemente vivenciados por nós e que causavam grandes taxas de morbidade e mortalidade em nossas crianças, em especial, naquelas pertencentes às famílias socioeconomicamente desfavorecidas. Como grande novidade abordou também uma enfermidade que para nós era, naquele tempo, totalmente desconhecida a Doença Celíaca. Fiquei altamente interessado e impressionado com tudo que aprendi naqueles dias e, sem qualquer sombra de dúvida, foi a partir desta fantástica experiência que começou minha inclinação pela Gastroenterologia e Nutrição em Pediatria, a qual se tornou irreversível.

Os dois primeiros anos da Residência Médica reforçaram a ideia da necessidade imperiosa de escolher uma super-especialidade dentro da Pediatria, porém sem jamais negar a formação generalista. Naquela época eram raras as especialidades pediátricas reconhecidas, tais como, neonatologia, neurologia, cirurgia pediátrica, genética para citar as mais consolidadas, enquanto que as potenciais outras futuras especialidades encontravam-se em estágio ainda muito incipiente de implantação. O Pediatra tinha uma formação de generalista e quando necessitava a opinião de um especialista era chamado um clínico de adultos, o que não trazia na prática, na maioria das vezes, grande contribuição para a solução dos problemas. Esta situação associada ao fato de que eu não conseguia dominar com segurança todas as diversas patologias que tinha que enfrentar no dia a dia me gerava grande angústia e insatisfação. Acabava por conhecer um pouco de tudo, mas apenas na superficialidade, o que me deixava profundamente frustrado, queria conhecer as patologias mais profundamente, queria entender as causas dos processos, não apenas as consequências, ou seja, simplesmente as manifestações clínicas (sinais e sintomas). Além disso, as principais causas de internação nas nossas enfermarias eram devidas a Diarreia aguda e Diarreia crônica as quais inevitavelmente vinham associadas à Desnutrição, e, acarretavam altíssimas taxas de mortalidade. Eu não me conformava com esta situação, era frequente deixar o hospital no fim do dia com os leitos ocupados com vários pacientes com diarreia e ao voltar na manhã seguinte encontrava estes mesmos leitos vazios porque os pacientes haviam falecido. A impotência frente àquela situação me deixava inconformado, não era possível que não houvesse uma solução para estes problemas tão frequentes e tão graves, era preciso conhecer mais a fundo os mecanismos de produção da doença, a íntima interação entre o agente agressor e o hospedeiro, para poder combatê-los com sucesso, era fundamental enveredar para a especialização. Por outro lado, esta era uma aspiração que vinha cercada de conflitos, posto que as resistências contra a especialização no campo da Pediatria eram consideráveis. Afinal de contas era com grande e justificado orgulho que se catalogava o Pediatra como o último guardião do médico generalista, o assim chamado médico da família. Os conflitos existiam, pois, a perspectiva de me tornar um médico generalista, ao estilo clássico da época provocava um fascínio inegável, mesmo porque estaria seguindo um modelo que havia sido consagrado ao longo da história; mas, em contrapartida, o meu grande sonho era encaminhar-me para a vida universitária, com o objetivo de enveredar-me na pesquisa, produzir e difundir conhecimentos em benefício da sociedade e dos futuros discípulos. Entretanto, para ter êxito neste desejo era imperioso que eu viesse a agregar valores, aprofundar meus conhecimentos em uma determinada área, para que eu pudesse desenvolver uma atividade de pesquisa mais dirigida, e, portanto, de maior peso específico. Este foi o desafio que lancei para mim, e, ao longo dos anos, foi o que tratei incessantemente de perseguir.

5.2- O Grupo de Estudo

No início do segundo ano da Residência, como consequência de todas as angústias e frustrações decorrentes dos insucessos frequentemente observados no manejo dos pacientes portadores de diarreia e desnutrição, resolvemos constituir um grupo de estudo. Era pequeno, mas muito aplicado e eficiente, composto pelo nosso preceptor Prof. Jamal e, por um grande amigo, cuja amizade foi sendo construída desde o primeiro ano do curso médico, agora colega na Residência, Dr. Fernando Fernandes. Tinha basicamente o objetivo de aprimorarmos nos novos conhecimentos que se avolumavam na literatura a respeito deste terrível binômio Diarreia-Desnutrição. Passamos, então, a nos reunir semanalmente, à noite, após o jantar na casa do Prof. Jamal para ler e discutir criticamente os artigos mais recentemente publicados na literatura médica sobre os principais aspectos relacionados com a fisiologia dos processos digestivo-absortivos e os mecanismos fisiopatológicos que envolviam a interação dos diferentes agentes enteropatogênicos com o hospedeiro, e suas consequentes intolerâncias alimentares. À medida que avançávamos em nossos estudos mais e mais nos conscientizávamos do quanto ignorávamos sobre o tema; isto, no entanto, não nos abalou negativamente, ao contrário, serviu sempre de estímulo desafiador para que nos mantivéssemos em permanentes encontros de estudo. Entrávamos, assim, no mundo recentemente descrito das intolerâncias aos carboidratos da dieta, em especial da lactose, fatores perpetuadores da diarreia e agravantes da desnutrição. Começava a surgir uma nova luz na perspectiva de oferecermos uma melhor conduta nutricional aos nossos pacientes, porém, ainda eram apenas conhecimentos teóricos, faltava-nos uma experiência prática para podermos ter mais segurança nas nossas propostas diagnósticas, de investigações laboratoriais, e terapêuticas (Figura 1).


Figura 1- Este paciente sofria de diarreia persistente e intolerância à lactose e recebeu alta curado do Hospital São Paulo; foi um dos primeiros, dentre inúmeros que viriam a seguir, a se beneficiar dos novos conhecimentos adquiridos do grupo de estudo a respeito das intolerâncias alimentares tão pouco conhecidas à época (1972). A foto abaixo juntamente com seu pai.

Foi aí, então, que começamos a esbarrar nos primeiros obstáculos que viriam gradualmente a se nos antepor, impedindo a consecução dos nossos projetos, causando mais desesperança do que satisfação. Ficava claro que havíamos construído uma sólida base teórica, mas, não dispúnhamos do domínio da tecnologia, nem dos métodos mais rudimentares para levar avante os procedimentos mais fundamentais da especialidade. Estávamos praticamente bloqueados, era necessário encontrar uma saída e foi a partir destas discussões que surgiu a ideia de buscar uma especialização nesta área de atuação, e, imediatamente, nos veio à lembrança o nome do Dr. Horácio Toccalino. 

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Minha História de vida e minha História vivida na EPM/UNIFESP (5)

4-        Estudante de Medicina na Escola Paulista de Medicina

4.2- Vida de Atleta

Para atenuar a maçante rotina dos laboratórios de ensino eu me envolvi profundamente com as coisas da nossa Associação Atlética Acadêmica Pereira Barreto (AAAPB). Lá coexistíamos os dirigentes (cartolas) e os atletas das diversas modalidades esportivas. Os “cartolas” eram responsáveis pela organização das competições entre as nossas congêneres como a PAULI-MED, a PAUI-POLI, a INTERMED, os campeonatos da Federação Universitária de Esportes (FUPE), e também cuidavam da administração da AAAPB.

A minha primeira participação em uma competição universitária ocorreu logo no início das aulas em abril de 1965, foi a PAULI-MED, que por coincidência acontecia pela primeira vez. Na verdade ela seria a precursora da INTERMED que começaria em 1967. Foi a minha primeira experiência em vivenciar o tamanho da rivalidade que existia entre as 2 faculdades de Medicina. Sabia que alguma rivalidade sempre existiu, mas sentir nos campos esportivos, pois eu jogava futebol, vôlei e futebol de salão, tanto por parte dos atletas como por parte das torcidas o espírito de guerra, foi para mim, que mesmo acostumado a outras inúmeras experiências prévias como atleta, algo bastante impressionante. Inesquecível era disputar as partidas escutando o cântico das torcidas se ironizando reciprocamente, enquanto a nossa insistia com o novo apelido dado à MED, “Porcada”, por outro lado nós ouvíamos continuadamente o “fede, fede, fede refugo da MED”. Afinal tudo era muito divertido, embora às vezes algumas escaramuças físicas ocorressem entre as torcidas. Esta primeira PAULI-MED nós perdemos na competição geral, embora tivéssemos empatado no futebol (2x2) e vencido no vôlei e no futebol de salão (Figura 1). 

Figura 1- Time de futebol da primeira PAULI-MED em 1965, no estádio do Pacaembu antes da construção do tobogã.

Entretanto, as outras 5 competições foram por nós vencidas de forma consecutiva. Em uma delas, quando eu já estava no quinto ano, a partida de futebol foi disputada no campo da Atlética da MED, porque o campo do estádio do Pacaembu estava em reforma. Era uma partida chave para determinar o vencedor da competição geral e eu havia me contundido com certa gravidade na semana anterior em um jogo do Clube Atlético Indiano contra a seleção do Macabi que iria participar das Macabíadas em Israel. Em uma disputa de bola com o goleiro deles houve um choque violento e eu sofri uma luxação acrômio-esternal extremamente dolorosa. A dor no tórax era intensa e eu mal podia respirar normalmente, que perdurou por toda a semana, o que tornava muito improvável minha participação naquela partida. Entretanto, como eu não queria deixar de jogar aquela partida de nenhuma forma, me socorri do nosso enfermeiro do Pronto Socorro da Ortopedia do Hospital São Paulo, o Jonas, nosso grande amigo que sempre cuidava com o maior carinho das nossas lesões ortopédicas, eu as tive inúmeras vezes, para tentar uma solução paliativa que viabilizasse minha participação na partida. Ele teve a ideia de fazer um colete de gesso que imobilizava meu tórax, o que me protegia, mas por outro lado, limitava tremendamente meus movimentos. Como esta era a única solução possível para eu poder jogar, assim foi feito, joguei toda a partida com enormes limitações, corria com dificuldade e tinha que me prevenir de algum choque físico que pudesse piorar minha situação. Enfim, tinha que me conformar com aquelas dificuldades, me irritava profundamente não poder ajudar meus companheiros como costumava fazer, o jogo estava complicado, o 0X0 se mantinha e a partida estava por terminar quando ocorreu uma falta a nosso favor próximo da área do adversário. Eu me apresentei para bater a falta porque normalmente o fazia, e, apesar das limitações físicas impostas pelo colete bati a falta e fiz o gol da vitória, o que também redundou na conquista da competição geral. Foi uma alegria transbordante, uma celebração interminável. Infelizmente, esta competição que foi se tornando tradicional em nosso meio universitário deixou de existir em algum momento dos anos 1970, porque as brigas entre as torcidas foram acontecendo cada vez mais frequentes o que inviabilizou definitivamente a organização da mesma.

As atividades esportivas influíam muito no metabolismo da EPM. Por exemplo, a PAULI-POLI movimentava não somente nossa EPM como até mesmo uma parte da nossa cidade. A primeira edição da PAULI-POLI foi realizada em 1940 e tornou-se uma das mais tradicionais competições universitárias. Era conhecida como a “Competição Majestade” e chamava a atenção dos paulistanos, seja pelas acirradas disputas esportivas como também pelos eventos paralelos, como shows, bailes, e o concurso da garota PAULI-POLI (Figura 2).



Figura 2- A) Símbolo da PAULI-POLI; B) Esquema simbólico da rivalidade em disputa.

Esta competição persiste até os dias atuais com grande entusiasmo por parte dos alunos de ambas as universidades. Vale a pena esclarecer que a PAULI-POLI é uma competição que envolve diversas modalidades esportivas e, nos anos 1960, durava toda uma semana, começava em um sábado do mês de outubro e terminava no sábado seguinte à noite. Eram disputadas as seguintes modalidades esportivas: atletismo (provas de campo e de pista), natação, polo aquático, xadrez, tênis, tênis de mesa, beisebol, bola ao cesto, voleibol, futebol e futebol de salão, era uma miniolimpíada. A primeira PAULI–POLI que disputei, em 1965, fazia 15 anos que a EPM não ganhava essa competição no computo geral e nesse primeiro ano vencemos a competição. Aliás vencemos as 4 competições seguintes de forma consecutiva, um feito absolutamente inédito até então.  Em algumas modalidades havia muitos anos que não ganhávamos, mas desta vez ganhamos. No futebol ganhamos de cinco a dois, marquei dois gols, no vôlei, eram 20 anos sem ganhar, ganhamos, eu era o capitão do time, e no futebol de salão, que foi a disputa final também ganhamos (Figura 3). 
Figura 3- Time de volei que quebrou uma longa série de derrotas na PAULI-POLI de 1965. Sou o terceiro da direita para a esquerda em pé.

Os jogos eram realizados no ginásio do Pacaembu, a decisão da competição global, ocorreu no futebol de salão, quem ganhasse aquele jogo seria o campeão da PAULI–POLI daquele ano. O ginásio estava completamente lotado, porque em anos anteriores geralmente a decisão já ocorria no meio da semana com vitória da Poli. Neste ano de 1965, no entanto, a decisão da competição ficou para o último dia. Muitos médicos que haviam se formado há muito tempo, que nunca haviam ganho a PAULI–POLI, estavam lá, vieram de diferentes lugares da cidade e mesmo de outras cidades próximas torcer pela nossa vitória. O ginásio do Pacaembu estava superlotado por torcedores de ambas as faculdades, mas a maioria era da EPM, havia uma grande expectativa, a esperança na nossa vitória era enorme, a emoção transpirava por todos os nossos poros, uma sensação indescritível, depois de tantos anos de seguidas derrotas aquele era o momento da redenção, não podíamos frustrar os anseios de vitória de um sem número de colegas atuais e daqueles veteranos, já médicos que vieram nos apoiar (Figura 4).

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Figura 4- Time de futebol de salão que deu a vitória final na competição geral da PAULI-POLI de 1965, depois de 15 anos de espera.

O jogo começou duríssimo, o time deles era muito bom, começamos perdendo de um a zero, viramos para dois a um e no final ganhamos, foi uma festa, não imaginava a transcendência disso tudo (Figuras 5 - 6).

Figura 5- Time principal de futebol de salão da noite memorável. Da esquerda para a direita Del Grande, Enio, Mantovani e Eu.



Figura 6- A tão ambicionada e conquistada medalha de ouro da PAULI-POLI.

A INTERMED teve início em 1967, e nós nos sagramos vencedores da competição geral, bem como em 1969 e 1970. Em 1969, em Botucatu, obtivemos uma vitória bastante folgada e mais uma vez vencemos nas 3 modalidades das quais eu participava, futebol, futebol de salão e vôlei (Figuras 7 – 8 - 9 - 10 - 11 - 12 - 13). 

Figura 7- INTERMED de Botucatu de 1969.

Figura 8- Time de futebol de campo campeão da INTERMED 1969.

Figura 9- Lance da partida final de volei por nós vencida. Estou atacando.

Figura 10- Time de volei campeão da INTERMED de Botucatu de 1969. Estou com o trofeu na mão.

Figura 11- Celebração pela vitória da competição geral da INTERMED de Botucatu 1969.

Figura 12- Celebração da vitória da INTERMED de Botucatu 1969.

Figura 13- Festa de comemoração da vitória da INTERMED de Botucatu 1969 na nossa Atlética.

Em 1970, em Santos, meu último ano de participação, entretanto, a vitória na competição geral foi apertadíssima e somente foi definida no último dia e mais ainda na última partida, a de vôlei entre nós e a “porcada”. No futebol empatamos com a “porcada” 1x1, mas fomos desclassificados nos pênaltis, isso foi uma grande frustração para nós porque contávamos com essa vitória para o cômputo geral (Figuras 14 - 15 - 16).

Figura 14- Ato de inauguração da INTERMED de Santos 1970 no estádio da Vila Belmiro.

Figura 15- Time de futebol que disputou a INTERMED de Santos 1970. Estou no centro abaixado.

Figura 16- Lance da partida contra a "porcada" no jogo que fomos desclassificados nos penaltis após cerca de 20 cobranças de cada lado. Estou cobrando uma falta para defesa do goleiro adversário.

 Aliás, para vencermos a competição geral, vencemos por meros 0,5 pontos de diferença, era necessário que naquele domingo à tarde, nós teríamos que vencer todas as competições em disputa, futebol de salão contra Ribeirão Preto, vencemos por 4x2, vôlei feminino contra a “porcada”, vencemos por 2x0, e vôlei masculino contra a porcada, vencemos por 3x0. Ao final de tudo foi uma festa imensa e eu pude me despedir da vida de atleta com uma vitória inesquecível (Figuras 15 – 16 & 17). 

Figura 15- Disputa da final do volei da INTERMED de Santos de 1970 por nós vencida. Estou levantando a bola.

Figura 16- Nossa gloriosa bandeira o Nicodemo celebrando a conquista da INTERMED de Santos de 1970.

Figura 17- Grande celebração pela vitória no futebol de salão na INTERMED de Santos de 1970. Estou ao centro com o trofeu na mão esquerda.

Mas uma grande surpresa estava por ocorrer, pois quando a partida de vôlei terminou fui carregado nos ombros pela nossa torcida e levado em direção à torcida da “porcada”, quase como um ato de desafio pelo nosso grandioso triunfo. Entretanto, contrariando minha expectativa de que receberia uma imensa vaia por esta provocação, a torcida adversária se levantou e me aplaudiu efusivamente, possivelmente em reconhecimento aos 6 anos de árduas disputas. Jamais me esqueci desse gesto magnânimo de um adversário tão renhido e com tanta rivalidade em jogo. São pequenos momentos de glória que o esporte nos proporciona e que enchem de orgulho a nossa alma.

Dentre os campeonatos da FUPE, no vôlei no meu primeiro ano conseguimos um honroso e inédito terceiro lugar, não tínhamos tradição nesta modalidade, geralmente não passávamos da fase de classificação. Em 1965, tivemos um desempenho excepcional e eu fui eleito o atleta do ano pela FUPE na modalidade. Posteriormente, em 1969, conseguimos o vice-campeonato. No futebol, no meu último ano, em 1970, depois de várias tentativas de conseguir uma boa colocação no campeonato da FUPE, nos sagramos campeões, sendo que na semifinal vencemos uma faculdade de Educação Física de Campinas que tinha vários jogadores profissionais e na final vencemos a faculdade de Educação Física de São Carlos por 4x1 que também tinha vários jogadores profissionais do interior do Estado (Figura 18). 

Figura 18- Time de futebol campeão da FUPE de 1970. Estou agachado o segundo da esquerda para a direita.

Neste ano para coroar minha vida de esportista fui eleito o atleta do ano da FUPE na modalidade de futebol, tornar realidade maior sonho do que este impossível.